sexta-feira, 13 de março de 2009

O que é Estética e como ela amplia nossa perspectiva de conhecimento

Hermenêutica: o início da compreensão

Estética é o ramo da filosofia que investiga o que é arte, quais as relações da arte com a realidade, com o conhecimento e com a construção da subjetividade, atendo-se aos aspectos racionais dessa investigação.

Todo ato causa uma experiência. O efeito que o contato com uma obra de arte causa no homem, a chamada experiência estética, é o foco deste estudo filosófico. A estética busca entender que tipo de saber esse contato gera, ou até mesmo se esse tipo de experiência é diferente das outras.

Mas, como o homem tem a limitação de naturalmente pensar de acordo com a realidade em que vive, para que possa extrair e aproveitar totalmente a experiência que é transmitida por uma obra de arte é preciso treinar para enxergá-la com o olhar de um espectador ingênuo, de quem a está observando pela primeira vez, e que principalmente não coloca suas outras experiências dentro da obra. É preciso um olhar amplo, imparcial, e não preconceituoso, sem um pré-julgamento de significados ou valores. Dentro da estética quem auxilia nesse processo é a hermenêutica.

A hermenêutica surge dentro da teologia, tendo como função principal direcionar a leitura e compreensão de textos bíblicos. Com o passar do tempo, ela se desvincula dos estudos teológicos e se estende à arte em geral.

Para entender de uma forma simples a função da Hermenêutica busquemos sua origem semântica. A palavra hermenêutica vêm da mitologia, de Hermes, o mensageiro dos deuses. Segundoo mito, Hermes era usado pra trazer mensagens do Olimpo, interpretando assim, a vontade dos deuses. Hermes apenas trás mensagens do Olimpo, jamais leva alguma mensagem para os deuses. A visão hermenêutica te expõe o que a obra tem a te dizer, sem deixar que você insira sua opinião na obra. Sendo assim, ela facilita a comunicação da obra para o espectador. Quando trabalhamos com a hermenêutica, o significado de compreensão se altera um pouco do senso comum. Compreender no sentido hermenêutico não é ir até a obra e lançar suas questões pessoais para que ela responda, e sim escutar aquilo que ela tem pra dizer.

O conhecimento é algo único, e jamais existirá dois conhecimentos diferentes sobre algo. É a perspectiva que aumenta em nosso conhecimento quando agregamos experiências, e compreender outras perspectivas é o mesmo que aumentar nosso ponto de vista. Esse é um dos pontos fortes do porque se observar arte do ponto de vista hermenêutico. A chamada arte do saber ouvir.

A construção do conhecimento não se dá por bases abstratas, e sim por tradição. Quando falamos de conhecimento ninguém é original, todos somos herdeiros. Mas não somos fadados há carregar um peso do passado sobre nós. Mas sim fazer parte de um jogo onde o passado é inovado, depois sedimentado e se transforma numa nova tradição.


O que determina uma obra de arte e como caracteriza-la

Para um primeiro entendimento é possível colocar a obra de arte como sendo uma idéia materializada. Normalmente se compõe em três partes, a matéria, a forma e o conteúdo. Uma obra pode atender à diversos propósitos como eternizar seu autor; nos levar a experimentar outras sensações, como por exemplo, uma viagem atemporal; e até mesmo a função óbvia de contemplação. Mas, o que nos torna criadores? E quais características definem uma obra?

Para ser um criador é preciso dominar a técnica, o “saber fazer”, um conjunto de regras que oriente a criação humana. Ele pode criar arte mecânica ou arte liberal. Mas, nenhum artista começa do zero, toda obra produzida é resultado de experiências acumuladas, o artista tem o poder de sintetizar 30 anos de trabalho em alguns segundos.

Uma primeira noção importante sobre obra é que as chamadas belas artes, são diferentes das artes úteis. A arte mecânica (útil) está associada à um ofício, a criação de um objeto que auxilie na vida prática, como uma cadeira, uma garrafa ou um pão. É destinada ao consumo já na recepção da obra e fadada ao desaparecimento. Basicamente, é algo destinado à manutenção da vida e não para exaltar sua própria arte.

A arte liberal (bela arte) tem como princípio exaltar a si mesma, e permitir a realização do homem. Serve principalmente para auxiliar na construção do mundo, e está destinada a permanência. Sendo assim, a mãe da obra de arte.

É comum ao pensar em obra de arte, associa-la com obra prima. Entretanto, na antiguidade uma “obra prima” tinha outro significado. Para os antigos a arte só era digna dos homens livres, ou seja, dos não escravos. E a obra prima era a obra inaugural que um aprendiz de artesão fazia sozinho, a sua primeira grande obra. Como um certificado de graduação. Era o trabalho que lhe garantia a posição de mestre. Portanto, para cada artista, só existia apenas uma obra prima, e as demais eram denominadas apenas obras de arte.

Em um primeiro momento o que dava valor estético para uma obra, e a caracterizava como arte era sua beleza, dentro dos padrões greco-romanos. Com o tempo esse padrão de beleza enquanto máxima para a arte perdeu força, e atualmente as obras garantem seu valor pelos conceitos e ideais que representam.

Algumas das funções que a obra de arte cumpre:
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  • Didático- pedagógica;
  • Conhecimento;
  • Prazer/ entretenimento, “diversão”;
  • Subversão;
  • Política;
  • Ritual;
  • Realização do homem;
  • Histórica.


Um padrão para o gosto e para o belo

Quando debatemos sobre determinados assuntos difíceis, é comum alguem apaziguar a situação com uma das famosa frases “gosto não se discute” ou então “gosto é como escova de dentes, cada um tem a sua”. Bom, a verdade é que mesmo respeitando a multiplicidade de gostos existentes, é quase impossível se falar em arte, se não chegarmos a um consenso universal que defina tudo aquilo que é arte.

Existem muitos fatores que nos determinam e nos tornam únicos por nossas escolhas e preferências. Onde nascemos, o contexto histórico em que estamos inseridos, as experiências pessoais que temos. Nossos gostos também são fortemente influenciados por sentimentos como amor, raiva, paixão, medo, etc. Por essas e outras variantes existe uma extrema variedade de gostos e opiniões.

Como já citei, antigamente esse consenso era o padrão greco-romano de beleza, e toda obra que se encaixava nesse perfil era considerada como artística. E hoje, mesmo sabendo que as obras buscam representar conceitos e ideais, a beleza ainda é um objetivo quando falamos de arte.

Mas com tantos gostos e opiniões diferentes, como é possível definir o que é belo ou feio para uma obra de arte?

O filósofo David Hume argumenta que não são todas as pessoas que podem definir esse padrão. Não por uma supremacia natural ou genética de alguns sobre outros, mas porque as mesmas variáveis que determinam os gostos, podem corrompê-lo muito facilmente. Ele não diz claramente qual é o padrão, mas define algumas atitudes suficientes para normalizar o gosto:

  1. A Prática da contemplação;
  2. Realizar a comparação entre os diversos tipos de beleza;
  3. Estar livre de preconceitos;
  4. Usar a razão;
  5. Ter “Delicadeza de gosto”

Ele afirma que todas as pessoas tendem naturalmente á reagir do mesmo modo quando são expostas as mesmas experiências afetivas e que essa confusão de gostos existe por que não levamos e consideração essas leis da critica. Seguir essas regras seria o suficiente para aproximar as opiniões, sujeitar a beleza a regras e a arte à um método.


A autonomia da obra de arte



O contemplar uma obra de arte exige um certo cuidado de não confundir, nem deturpar, o que a obra está te dizendo com aquilo que você quer dizer. Existe um mundo da obra que é diferente do mundo real onde vivemos. E ele tem suas próprias regras e limitações, a sua configuração é algo que não se mede por nada fora dela, não admite comparação, mediação com a realidade, esta aí de modo absoluto. Não se coloca em xeque a realidade ou veracidade da obra. A arte te proporciona uma liberdade protegida, que não fixa metas sérias e te permite riscos delimitados.

Cada obra de arte tem uma única e mesma estrutura artística, então, como é possível tirar delas várias representações e ainda assim reconhecer a matriz que gerou essas impressões?

Esse vínculo entre a matriz e a representação não deve ser interpretado como uma obrigação de significado embutida na obra, pois, existe uma autonomia absoluta da obra em relação ao autor/ expectador. Isso significa que apreciar uma obra seria, entender suas regras e jogar o jogo que ela propõe. Ou jogamos o jogo, ou não entendemos. E esse jogo tem regras próprias, independente de quem criou o jogo, ou de quem joga. Sendo assim, a opinião do criador não é superior as demais para explicar a obra. A obra é auto-suficiente. Ela depende de uma representação, mas não se cola nela.

Mesmo sendo desenhada em um sentido fechado no seu próprio mundo, a obra tem um nexo de sentido que revela uma verdade. Uma espécie de moral que nos permite ver “como são as coisas”. Entretanto, a característica primordial da arte, é não mostrar explicitamente as respostas, mas nos instigar a pensar sobre elas, sempre dentro do jogo que ela propõe.

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Referências bibliográficas


GADAMER, H.G. Verdade e método.
Petrópolis : Vozes; 1997

HUME, D. Ensaios morais, políticos e literários
São Paulo: Abril cultural; 1980, 2ª Ed. Col. Os Pensadores

RICOEUR, P. Do texto a acção, ensaios de hermenêutica II
Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica; 1989


NUNES, Ellen
Contato: ellenwar_nunes@yahoo.com.br